Bajara Teatro de Encantarias

Bajara Teatro de Encantarias

Dramturgias de Encantarias

       Alguns causos que adubaram os primeiros remos do Teatro de Encantarias na Bajara Cênica
     






  "Antes era um museu que era bem ali...aí lá o dono de lá era um homem...aí aquele museu...ele não tinha...proteção pra proteger o museu. Aí ele fez um negócio com as visagem pra proteger o museu dele em troca elas iam ter os artefatos do museu, mas ele não quis dar e elas começaram a destruir tudo mas... lá... naquele museu... tava uma velhinha que caiu uma pedra em cima dela e ela morreu. E dizem que saiu o olho dela. Aí a vovó disse que ela tava passando lá por frente de noite e tava a velhinha andando... só a alma dela sem olho.

    E dizem que quem entrar lá dentro vai ser morto igual a ela. Quem fazer aquele museu dinovo, vai morrer igual ela morreu..."


                       (João, 8 anos)



    " Na época do verão fui pescar com o amigo. Aí nós peguemos peixes aqui dentro do lago... aí tiremos a rede e tinha bastante peixe...aí nos encostamos pra fazer uma piracaia com o amigo, aí nóis fizemo fogo... assemo uns peixe...e depois de nóis fazemos a pescaria nóis durmimo lá perto do fogo e esquecemo da canoa aí deu vento na canoa.  

   A canoa fugiu... quando nóis percebemo a canoa tava ao outro lado do lago, a gente enxergava ela malzinha e agora quem é que passo? 

  Nóis viemo de pé, andemo aqui na Vila, pegamo outra canoa e fomo buscar a canoa que tava com os peixe e as malhadeira dentro da outra. Nóis durmimo bastante e a canoa saiu, foi uma das histórias que aconteceu comigo aqui dentro do Lago... 

   Uma lenda... olha...uma vez eu tava pescando com uns amigos e dizem que aqui tem uma cobra grande, existe uma cobra grande sabe... 

  Quando fica verão aí fecha a boca ali, aí dizem que tem um buraco por baixo da terra que vara pra cá pra dentro do Lago. Aí eu tava pescando com uns amigos e tinha boto boiando. Aqui na frente tava seco, é tudo seco no verão fica só o canal, aí nóis tava deitado na praia desse lado daqui. E nóis tava lá... e o boto tava boiando em frente a esse canal...se calaram...os botos se calaram, daí : “ cadê os boto que estava aqui boaiando? 

 Aí não demoraram já tavam boiando pra cá desse lado, aí só pode ser o buraco que dizem os antigos que vara aqui na terra, que a cobra grande vara pra cá. Que por aqui eles não foram porque tava seco, aí eu acho que deve ser verdade que tem um buraco aqui que vara pra lá dentro...o buraco grande...um poço da cobra grande...bem aqui..."


                                                        (Cantino Ferreira, 65 anos, catraieiro)





 
  "Bem...a curupira ela não é uma lenda, realmente ela existe porque... uma vez caçando na floresta é... a noite já a partir das 6h da noite né, então eu percebi que existia um assovio...assoviava....e começou a incomodar e a primeira vez fiquei meio assim, encabulado com aquilo, quando foi da primeira vez, aí contando a história, os avôs cabaram dizendo que era o Curupira. 

 Quando voltei dinovo que tava ali querendo me amendontra foi aí que começou a dar arrrepios, medo,  e aquilo começou acompanhar assoviando e só a partir do momento que saí do local onde eu tava passando pra apanhar algumas caças, foi aí que nos deixou.  Então percebe que quando existia a mãe natureza que ela tava aí tentando fazer que eu saísse da floresta pra deixar os animais...

                       Deu para perceber alguma coisa? 

     Os mais velhos, eles contavam que assim então, ele começava a judiar e começava a bater nos paus...eles tinham que tecer um teçume pra deixar ali. Eles diziam que ele ficava naquele teçume aí ela saia e ia embora e ela conseguia deixar ele quando ele não fazia isso aí ele saía pra dar a volta e ir embora...
    ...Eu não conseguia...ele rodava sem perceber e passava no mesmo lugar dinovo...quando ele dava definição, tava voltando pro mesmo lugar que eu fazia o teçume. Eu deixava lá e vai embora normal, e o pessoal já tinha assim, acreditava né, que realmente existia... 

   Tem muitos caçadores que por exemplo no momento de que eles tavam caçando ofereciam um cigarro: olha, eu te dou um cigarro, tu me dá felicidade. Aí deixava o cigarro lá, aceso... e foi embora, matava a caça e volta..."

                             (seu Elson Correa- comunidade Bom Futuro, rio Arapiuns)


 
"...Tinha os mais idosos por aqui, finado Sardinha, finado Eusébio, depois tinha seu Belina, Seu Jacinto todos que eu conheci aqui os mais velhos que eu conheci em Alter do Chão. Agora tinha as idosas também como a finada Sabina a mulher do finado Conrado a D. Ana, as outras... D. Ana também, que é a tia dessa Maria e a esposa...

...aqui nós tivemos um maestro de música que aprendeu e estudou com Juvêncio Navarro e ficou como maestro da musica aqui...

...Sérgio Sardinha...Sergio Sardinha teve uma família muitos tempos aqui, depois os filhos se empregaram na Petrobrás e se apartaram daqui. Depois morreu a velha, morreu o velho, já morreu dois filhos, uma filha...acho que tem uma filha morando aí no terreno que eles tinham  aí ela resolveu fazer uma casa... 

...é difícil sair de casa...paro aqui mesmo...as histórias que aqui contavam de primeiro é justamente quando o pessoal daquele tempo era muito analfabeto, não sabia quase nada.  Então quando era dali pelas 3, 4h da manhã eles se reuniam, pegava lata, pegavam canheiro, pegava tudo quanto era... um caminho...e iam embora...que eles tinha que ganhar por dia.  Então era coisa que acontecia com eles, a viagem deles era perdida, eles iam buscar o dia...

  ...Eu cheguei aqui em 43. Eu cheguei aqui com 22 anos, agora estou com 88 anos já vou fazer 89 agora em julho, agora em julho vou completar 89...a cabeça tá perfeita só a sordura que é difícil quase conversar...

  Sobre a minha história, assim...sobre a minha vida... a vida minha foi ser seringueiro, lavrador...fui explorador de pau rosa, tudo por aí eu andei, a minha vida era essa. Tudo quanto serviço eu fiz, tirei castanha fui castanheiro, tirei óleo de copaíba andando nesses mato aí 4, 5 dias de viagem pra poder tirar uma duas latas de óleo...

   Trabalhei catirana, trabalhei maçaranduba fazendo borracha também de maçaranduba, catirana...foi assim...

  Fui tirador de lenha assim a bordo, no tempo que as embarcação só queimavam lenha ainda não, tipo a usina de Santarém que funcionava só com lenha...é assim...e ainda consegui ter família aqui em Alter do Chão eles tiraram um terreno aqui. Conseguimos depois de muito tempo lutar pra poder fazer uma casinha pra gente morar, até hoje nós távamos de baixo do que é nosso, nessa casa aqui, meu trabalho e da mulher...só nós dois. 

  Fizemos uns filhos mas tão tudo em Manaus, empregado em Manaus, já casaram aqui a mais velha também. E da minha família só teve eu mesmo... 

 Depois que eu cheguei aqui a gente passou uns tempo, o pessoal resolveram levantar um tal de um Çairé que tinha dinovo e depois acabaram com ele.   Depois de uns quarenta e poucos anos levantaram dinovo e eu fui convidado pra entrar com eles.

   Entrei...quem levantaram esse Çairé: Sardinha, Nazaré Sardinha, Luzia Lobato e Teresinha Lobato e as pessoas que se lembraram  do Çairé e levantaram, até hoje tá funcionando, me convidaram e eu entrei com eles também... 



                                      Criamos a orquestra deu-se o nome de Espanta Cão... 

 ...Espanta Cão nós criamos aí quando levantaram o Çairé... tinha uma turma aqui que tocavam as brincadeiras, sem grupo, sem nada. A gente era tão vizinho tão chegado, que se reunia em tempo de mês de julho e ensaivam as brincadeira.  

   Ensaivam o cuzador tupi, ensaiavam o faisão, ensaiavam o rouxinol, beija flor, esses pássaros tudo ensaiavam aqui, pelo tempo do mês de julho que era...todo esse tempo a gente fazia aquela festa...dava pra brincar, inventava até os boi lá pra brincar, era assim que eles faziam...aí a festa do Çairé ficou sendo promovida todo o tempo. Até agora ela é promovida, a festa do Çairé. A festa que reúne muita gente, muito grande. Agora depois disso já ficou o modo do cara de Belém que estava por nós por aqui, disse pra nós que era melhor a gente formar um conjunto de pau e corda.  

 Tinha o rapaz por nome de Dori que é Sabino que está em Manaus agora. Estava junto comigo que é filho da Teresinha Lobato. “Vamos formar um grupo”, então nós formamos, dois violino, um cavaquinho, uma marimba, um taró, um pandeiro e um xeque, daqueles de mão.

 Formamo o grupo só que não tinha onde o grupo fazer reunião a gente fazia na casa da Maria Olívia, primeira reunião nossa. Aí se apresentamos e fizemos, aí o pessoal “falta por o nome do grupo” aí todo mundo ficou pensando...”Lembrança do Çairé!”...e todo o nome. Eu digo! (eu que disse): quando papai me disse, quando a gente tocava violino o demônio não entra. 

  E aí tinha o rapaz que tocava violino com a gente também, o Toti, aí ele disse, “então fica Espanta Cão”, ficou sendo o nome do grupo Espanta Cão até agora né, assim que aconteceu...

 O primeiro ano que nós conseguimos a festa do Çairé teve a valsa Ponta de Lenço, teve o cruzador tupi, teve o pavão, assim teve as brincadeira que nós fizemos, mas a brincadeira mais forte que nós tinha por aqui era o cruzador tupi...depois foi se acabando... 

...Tinha músico por aqui...tinha 35 músicos de metal, só eu que tocava banjo..era uma música que eles estudaram que aprenderam era o nome de 29 de julho, da banda de música. Era o saxofone, trombone, clarinete, piston, trompa, contrabaixo, tudo quanto era instrumento, saxofone soprano, só eu tocava banjo... 

 ...até hoje participo ainda do Çairé, ainda não deixei e só tenho o caso de dizer que só vou deixar de viver essas brincadeiras depois que eu não possa mais nem andar, aí eu não vou, enquanto lá, enquanto isso não, o maior prazer meu é esse, é uma tradição muito grande que a gente tem aqui.


  O pessoal nativo não se interessava por cultura, eles tirava o corpo fora, não sabiam o que era uma cultura que a gente cria. Pode criar hoje qualquer uma cultura, sabendo ensaiar ela cria muito valor. Mas se só foi aquela vez e ninguém se incomodar, pronto, acabou-se a cultura."



       (seu Civito Malaquias, fundador da orquestra popular Espanta Cão)